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Vida acelerada e maternidade




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Já sabemos que estamos vivendo em um ritmo acelerado. A velocidade com que as informações chegam até nós facilita a vida em muitos aspectos — mas também nos atropela. Tudo é urgente, tudo precisa de uma resposta rápida, de uma solução imediata. E quando essa lógica se infiltra na maternidade, o impacto pode ser profundo.


Vivemos uma avalanche de conteúdos, listas, diagnósticos, especialistas e opiniões. Somos bombardeadas o tempo todo e, sem perceber, começamos a achar que precisamos dar conta de tudo. Saber tudo. Opinar sobre tudo. Do aquecimento global à vida dos famosos, passando pela cor da camisa da seleção. Dizer "eu não sei" virou quase um pecado. E com isso, cresce a sensação de que estamos falhando. A ansiedade toma conta — e o medo de perder algo importante, de não estar fazendo o suficiente, também.


Mas o que tudo isso tem a ver com o desenvolvimento do bebê?


Absolutamente tudo. Porque o desenvolvimento do bebê é o oposto desse ritmo acelerado. Ele acontece em etapas lentas, muitas vezes invisíveis aos nossos olhos. Não é sobre "checklists", nem sobre "estar adiantado". É sobre viver cada pequena conquista no seu tempo. E quando tentamos apressar algo que precisa de tempo para florescer, o que colhemos é frustração — nossa e deles.


Nos primeiros meses, os bebês parecem até que vêm com um cronograma invisível: quando vão sorrir, sentar, andar, falar. Mas a verdade é que esse cronograma é apenas uma média, uma referência. Cada bebê é único. Leva nove meses para estar pronto para nascer, dois a três meses para sorrir em resposta a um estímulo, seis meses para sentar meio desajeitado, e até 18 meses para andar com firmeza. Tudo isso exige uma coisa simples — e difícil: tempo.


A grande questão é: estamos prontas para dar esse tempo ao bebê?


E mais: estamos prontas para oferecer nosso tempo, nossa presença, nosso olhar atento para ajudá-los nesse caminho? É um desafio. Não só porque vivemos no automático, mas porque queremos evitar que nossos filhos sofram, errem ou tenham dificuldades. Só que aprender exige errar. Crescer exige tentativa. Desenvolver-se exige maturação. E nada disso acontece com pressa.


Como pediatra, sei o valor dos marcos do desenvolvimento. Eles são ferramentas importantes para identificar quando algo foge do esperado. Mas como mãe, sei também o quanto a pressão por "cumprir a lista" pode ser cruel — e, muitas vezes, desnecessária.


Vou te contar um exemplo simples: a disquesia. Um nome complicado para uma situação comum nos primeiros meses: o bebê faz força, se contorce, parece sofrer para evacuar. Mas não está constipado, nem doente. Ele só está aprendendo a fazer cocô. Parece bobo, mas é real. E aí, na nossa pressa, corremos para resolver. Buscamos remédios, soluções imediatas, diagnósticos. Quando, na maioria das vezes, tudo que ele precisa é tempo. Tempo para entender seu corpo. Para se organizar. Para aprender.


Claro, há situações que merecem atenção médica. Mas grande parte das questões do início da vida se resolve com paciência, observação, colo e presença.


Nosso desafio diário é justamente esse: desacelerar para acompanhar o ritmo do bebê. Perceber seus sinais, celebrar suas pequenas conquistas, apoiar seus tropeços — sem querer apressar. Porque o desenvolvimento de um ser humano leva uma vida inteira. E viver essa construção com calma é, sem dúvida, um dos maiores presentes que podemos dar aos nossos filhos.

 
 
 

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Desirée Tavares

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